Carta de Charles de Foucauld à sua irmã Mimi
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Minha querida Mimi,
Acabo de receber o telegrama enviado ontem. Deves ter sentido pena pela morte dessa pequena criatura. Também a tenho pensando em ti. Mas confesso que sinto um arrebatamento de profunda admiração, cheia de reconhecimento ao pensar que tu, minha irmãzinha, tu, pobre viajante e peregrina nesta terra, já és mãe de um santo... Que o teu filho, aquele a quem deste vida, está naquele Céu belo a que nós aspiramos, e pelo qual ansiamos. Num instante, ele tornou-se maior do que os seus irmãos, maior do que os seus pais, maior do que todos os homens mortais. Oh, quando mais sábio do que todos os sábios! Tudo o que conhecemos como enigma ele vê com clareza, tudo o que nós perseguimos dolorosamente ao preço de uma longa vida de lutas e sofrimentos, ele alcançou desde o primeiro passo. As maravilhas que "os olhos dos homens não podem ver, nem os seus ouvidos escutar, nem os seus espíritos compreender", ele as vê, ouve e desfruta. Está a nadar por toda uma eternidade num êxtase sem fim, e enche-se na taça das delícias divinas. Contempla Deus no Amor e na Glória, no meio dos santos e dos anjos, naqueles coros de virgens, do qual faz parte e que segue o cordeiro por onde vai...
Todos os teus outros filhos caminham penosamente em direcção à pátria celestial, esperando alcançá-la, mas não tendo a certeza, e podendo ser excluídos dela. Sem dúvida não chegarão senão a custo de muitos combates e dores e talvez também depois de um longo purgatório. Ele, este anjinho protector da tua família, voou para a Pátria de uma vez e sem trabalho, sem incertezas. Pela liberdade de Nosso Senhor Jesus, goza por toda a eternidade da visão de Deus, de Jesus, da Santíssima Virgem, de São José, e da infinita felicidade dos elegidos... Como deve amar-te! Os teus outros filhos poderão contar, assim como tu, com um protector muito terno.
Ter um santo na família, quanta força! Ser mãe de um habitante do Céu, que honra e que felicidade! Repito, pensando nisto cheio de admiração. Diz-se que a mãe de São Francisco de Assis foi muito abençoada porque, em vida, assistiu à canonização do seu filho. Tu és mil vezes mais abençoada! Tu sabes, com a mesma certeza que ela, que o teu filho é um santo do Céu, e sabes desde os primeiros dias desse bendito filho, sem o teres visto atravessar, por assim dizer, por toda uma vida de dor. Quão agradecido te está!
Aos teus outros filhos deste com a vida, a esperança de uma felicidade celestial; ao mesmo tempo, uma condição sujeita a muitos sofrimentos. A este deste, desde o primeiro momento, a realidade da felicidade celestial, sem incertezas, sem espera, sem qualquer mal. Quão feliz está e como é bom Jesus conceder a este inocente uma coroa imortal e uma glória inefável sem que ele jamais tenha lutado! É o prémio do Santo Baptismo, é o preço do Sangue de Jesus. Ele sofreu e combateu para ter o direito de salvar os seus, sem nenhum mérito da parte deles. Tem méritos suficientes para introduzir no Reino de Seu Pai a todos os que Ele quiser e na hora que quiser.
Minha querida, não fiques triste, antes repete com a Virgem Santíssima: "O Senhor fez grandes coisas em mim; de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações". Muito bem-aventurada porque és a mãe de um santo, porque aquele que o teu ventre gerou já está, neste momento, resplandecente de glória eterna. Porque como a mãe de São Francisco, ainda estás viva, com a felicidade penetrante e estática de pensar que o teu filho é um santo, sentado eternamente aos pés de Jesus, eternamente apoiado no seu Coração, no amor e na luz dos anjos e dos bem-aventurados.
Que o Regis tenha sempre um lugar nas conversas de família, todos pensem nele. Que não seja esquecido pelos seus irmãos e irmãs, nem posto de lado, que se fale muitas vezes dele como se estivesse vivo. Ele está mais vivo do que nós, todos nós os que vivemos na terra. Ele é o único perfeitamente vivo dos seus irmãos, pois só ele tem a vida eterna que todos podemos perder. Ah, como tantos outros a perdem. Mas este querido Regis nos ajudará a alcançá-la.
Eu invoco-o com frequência e com frutos. Peço-lhe que me ensine a rezar. Pede-lhe tu também e ensina os teus filhos a dirigirem-se a ele nas suas necessidades. Ele ama-os muito e tem tanto poder!